Betinho dizia que a igualdade é o primeiro princípio da democracia. “Como este mundo é desigual! Os países são desiguais. Uns extremamente ricos, outros na indigência. Mas quem condena a igualdade? Este é o grande desafio do mundo moderno. Como fazer um mundo para toda a humanidade?”, questionava. [1]

Para Betinho, “a igualdade deve realizar-se nas relações econômicas, sociais, culturais e políticas. Se não for assim, não se realiza, nega-se. Em termos concretos, estamos propondo que não existe democracia quando a fábrica se organiza segundo os princípios da ditadura do capital sobre o trabalho, a sociedade se organiza segundo os princípios da desigualdade e do racismo, a cultura segundo os princípios do privilégio, e a política segundo o princípio da exclusão e do domínio”. [3]

No mundo do capital, afirmava, “a igualdade só existe (e a diversidade só é possível) entre os detentores do capital de igual poder. Todos os demais só são iguais enquanto igualmente dominados pelo capital. (…) Esse é um dos grandes milagres do capitalismo: convencer os desiguais de que são iguais, e apresentar-se como a ordem desigual que produz as melhores oportunidades para que todos sejam iguais”. [3]

“Propor a democracia é propor uma sociedade igualitária e participativa, onde todos constituem o sujeito de sua própria construção como sociedade. É propor uma utopia que nunca se completa por mais que se realize”, ressaltava. [2]

Betinho dizia também que “o princípio da igualdade questiona todas as relações existentes de forma permanente e em profundidade, e não existe uma relação social, econômica, política ou cultural que possa escapar dessa verificação. Todas as questões concretas de nossa sociedade têm como ponto de referência a realização (ou não) desse princípio, da reforma agrária até a luta pelos direitos humanos das menores minorias…” [4]

Ele também defendia a ideia de que “o princípio da participação de todos em tudo e a todo momento é que produz a igualdade e torna impossível o paternalismo ilustrado dos justos e iluminados. Sem participação nada é realmente igual e democrático.” [4]

Igualdade e diversidade

Segundo Betinho, igualdade não se opõe à diversidade. “Por um princípio ético, todos devem ter direitos iguais, apesar de diversos. Eu diria que o conceito de igualdade é muito mais ético do que político, embora se realize pela política. Uma sociedade só pode ser democrática na medida em que ela cria e institucionaliza condições para que o direito à igualdade seja plenamente exercido por pessoas diversas. Por exemplo, uma sociedade democrática garante a todos, ou se organiza para garantir a todos, o direito de comer. Todos podem comer, não necessariamente a mesma comida: a sociedade organiza também a possibilidade de atender a esse direito através da diversidade, isto é, as pessoas vão dispor das mais diferentes comidas, nas mais diferentes formas.”

O princípio da diversidade, dizia, “abre o espaço para a realização plena da igualdade sem a eliminação das diferenças, da criatividade, da liberdade e do desenvolvimento pleno das potencialidades de todos, de cada um ou uma.” [4]

 

Fontes:

[1] SOUZA, Herbert de. Em nome da ética. São Paulo, Folha de S. Paulo, 21 ago. 1994.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/8/21/painel/1.html

[2] SOUZA, Herbert de; RODRIGUES, Carla. Ética e Cidadania. São Paulo: Editora Moderna, 1994.

[3] SOUZA, Herbert de. Escritos Indignados: Democracia X neoliberalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Rio Fundo Editora/ Ibase, 1991.

[4] SOUZA, Herbert de. Construir a utopiaproposta de democracia. “Coleção Fazer”. Petrópolis (RJ): Vozes, 1987.