O quarto princípio, segundo Betinho, é o da soliedariedade. Ele afirmava que os princípios de uma verdadeira democracia “têm de ser permeados pelo sentimento e pela emoção de ser solidário. A solidariedade é a emoção mais forte que a humanidade pode viver e experimentar. Solidariedade significa a convicção de que não estamos isolados; é aceitar a relação.” [1]

Ele advertia, no entanto, que é preciso distinguir assistencialismo de solidariedade. “Solidariedade é que nós fazemos com nossos amigos, até mesmo com nossos filhos, com os nossos vizinhos. Solidariedade é o que acontece numa nação quando ocorre uma catástrofe, um terremoto ou uma grande enchente, por exemplo. Ninguém questiona a distribuição de alimentos aos flagelados, ou chama esse ato de assistencialismo.” [2]

Miséria e solidariedade

Betinho via na solidariedade o caminho para acabarmos com a miséria: “assim como a miséria foi sendo construída com a indiferença frente à exclusão e à destruição das pessoas, a negação da miséria começa a se realizar com a prática cotidiana, ampla e generosa da solidariedade”. [3]

Ele dizia que “a frieza construiu a miséria. Construiu as cidades cheias de gente e de muros que as separam como estranhos que se ignoram e se temem. A solidariedade vai destruir as bases de existência da miséria. É uma ponte entre pessoas”. [3]

Por isso, dizia, “o gesto de solidariedade, por menor que seja, é tão importante. É um primeiro movimento no sentido oposto a tudo que se produziu até agora. Uma mudança de paradigma, de norte, de eixo, o começo de algo totalmente diferente. Como um olhar novo que questiona todas as relações, teorias, propostas, valores e práticas e restabelece as bases de uma reconstrução radical de toda a sociedade. Se a exclusão produziu miséria, a solidariedade destruirá a produção da miséria, produzirá a cidadania plena, geral e irrestrita. Democrática”. [3]

Na visão de Betinho, “se a distância perpetua a miséria, a solidariedade interrompe o ciclo que a produz, abre possibilidades imensas para se reconstruir a humanidade (…). Se a indiferença construiu esse apartheid monstruoso, a solidariedade vai destruir suas bases. E essa energia existe com uma força surpreendente entre nós, uma força capaz de contagiar quem menos se espera e de produzir uma nova cultura, a do reencontro”. [3]

Um exemplo do poder da solidariedade era o Movimento da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, que ele liderou. Em relação ao movimento ele dizia: “há uma tremenda força de mudança no ar, na terra. Há um movimento poderoso, tecendo a novidade através de milhares de gestos de encontro. Há fome de humanidade entre nós, por sorte ou por virtude de um povo que ainda é capaz de sentir, de mudar e de impedir que se consume o desastre, o suicídio social de um país chamado Brasil”. [3]

Fontes:

[1] SOUZA, Herbert de. Em nome da ética. São Paulo, Folha de S. Paulo, 21 ago. 1994.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/8/21/painel/1.html

[2] MOBILIZAÇÃO: Betinho & a cidadania dos empregados de Furnas. Rio de Janeiro: Comitê Furnas Ação da Cidadania, 1998.

[3] SOUZA, Herbert. A alma da fome é política. Rio de Janeiro, Jornal do Brasil, 12 set. 1993.