O segundo princípio da democracia, na visão de Betinho, é o da diversidade. “Nós queremos a igualdade, mas queremos também respeitar as diferenças. Igualdade e diferença podem vir juntas, porque toda a igualdade que elimina a diferença acaba com a igualdade.” [1]
De acordo com ele, “o princípio da diversidade consiste em admitir que as pessoas podem ser iguais e, ainda assim, ter atitudes e práticas diferentes.” Ele explicava que a democracia só se constrói através dessas diferenças. “A democracia não vive da unanimidade, morre.” [2]
No entanto, chamava atenção para o fato de que diversidade não representa a mesma coisa que diferença ou desigualdade.
Diferença x diversidade
Betinho ressaltava que é preciso fazer distinção entre diferença e desigualdade. Segundo ele, “desigualdade deriva de um tipo de privação social, por exemplo, quando um é rico e o outro é pobre. Isso não significa que os dois sejam diferentes, mas que, diante da riqueza, um tem e o outro não tem. Um está incluído naquele benefício e o outro está excluído. A igualdade e a desigualdade são princípios éticos. A diferença não se relaciona necessariamente com a ética. Um pessoa pode ser diferente da outra, e não ser desigual.” [3]
Ele exemplifica: “a nossa história escravocrata não fez do negro um diferente, mas um desigual, dominado pelo branco e excluído da sociedade por ser negro. Nós chamamos essa desigualdade de ‘racismo’. No Brasil, a cultura dominante tenta ignorar, tenta negar essa desigualdade. Por isso, sempre se diz que aqui não há racismo, que aqui existe democracia racial, tolerância. Mas é o negro quem tem menos escolaridade, recebe salário menor, encontra menos oportunidades de emprego e não consegue ocupar espaços nas estruturas da sociedade, no Exército, na universidade, na Igreja, na política. O Brasil tem um apartheid social claro. Mas não é um apartheid assumido. O Brasil tem medo de ser racista. Mas é.” [3]
No Brasil imperam as diferenças
“No Brasil de hoje se poderia dizer que existe muita diferença entre os de baixo e sobra unidade entre os de cima: se a classe dominante brasileira fosse um pouco mais dividida haveria na mesma proporção mais espaço para a democracia”, avaliava. [2]
Na visão de Betinho, o Brasil só será um país unido quando “respeitar a diversidade e todos vivermos em condições básicas de igualdade, liberdade e respeitando todas as diversidades.” [2]