Betinho não morreu

por Luiz Pinguelli Rosa

Texto extraído do livro Mobilização: Betinho & a cidadania dos empregados de Furnas, de 1998.

Como, às vezes, os afazeres profissionais me faziam ficar semanas sem ter com Betinho aquelas conversas sensacionais que tínhamos quando nos encontrávamos, é difícil mentalizar que ele não está vivo. Aliás, acho mesmo que ele vive não só nas nossas cabeças como na alma do povo, dos beneficiados pelo seu Movimento Contra Fome e pela Vida e o Emprego.

Foi meu último guru, depois de Hélio Pellegrino, com quem me reunia na casa de Carlos Alberto Barreto, onde conheci Henfil, antes de me ligar a Betinho. Interessante, os dois irmãos tinham em comum o senso de humor. Betinho era alegre sempre, mesmo vivendo as piores situações. Não era jamais chato, como costuma ser a esquerda. Era otimista, embora dizendo-se politicamente derrotado, como membro do que chamava exército Brancaleone, no qual incluía eu e o André Spitz.

Betinho nos levou para cooperar no Ibase nas Políticas Públicas, na área de energia, ainda ao tempo do velho casarão em Botafogo. Depois quando fui Diretor da Coppe na UFRJ pela primeira vez, Betinho lá esteve em diferentes ocasiões e fizemos um seminário sobre as enchentes no Rio. Foi a semente do que em 1996 foi retomado em nível mais amplo, com novo seminário envolvendo o Comitê das Empresas Públicas contra a Miséria, resultando no livro agora publicado com o prefácio do Betinho.

No fórum de Ciência e Cultura não foi menor a cooperação do Betinho. Lá sediou as primeiras reuniões do Movimento pela Ética na Política que desaguou no impeachment do então Presidente da República. Também sediou uma das primeiras reuniões do Movimento Contra a Fome, com a presença de inúmeros presidentes de empresas estatais, muitas hoje privatizadas. “Aqui está a metade do PIB”, dizia Betinho, com seu ar malandro e angelical, mistura especial que hoje nos faz falta. Que saudades!

 

2017-08-01T18:22:00+00:00julho 15th, 2017|