Betinho, um engajamento pela vida e pela democracia

por Cândido Grzybowski

Texto extraído do livro Mobilização: Betinho & a cidadania dos empregados de Furnas, de 1998.

Sem sombra de dúvida, Betinho foi um grande lutador. Lutou pela vida antes de tudo. Sua própria vida e a de nós todos. De onde tirou tanta força?

Evidentemente, sua força não foi muscular, como a de um atleta no ringue ou na quadra. Franzino e, segundo os padrões dominadores, portador de deficiência física e doente, porém, forte, muito forte como ser humano. Sua força foi viver plenamente aquele fio de vida que foi seu. Transformou sua fragilidade física em grandeza da humanidade. Sem rancor ou ódio. Buscou a alegria e a felicidade.

Demonstrou paixão, garra e coragem, quando necessário. Nunca escondeu emoção, ternura e sonho. Com a mesma intensidade que se indignava diante da injustiça de uma criança jogada nas nossa ruas ou de um faminto condenado a sobreviver escavando a lixeira de um restaurante, Betinho explodia de entusiasmo ao escutar uma bela música. Não escondia o prazer de beber uma cerveja e seus olhos brilhavam instigados por uma saudável análise de conjuntura. Bem, os olhos do Betinho sintetizavam tudo isso. Eles não traíam, falavam limpidamente. Foi com eles que Betinho deu força a seus argumentos na luta pela vida de nós todos. Era como se exclamassem confiança e nos convidassem para fazer a nossa parte.

A luta de Betinho adquiriu sua plenitude quando conseguiu dar, para si e para nós, o sentido da radicalidade democrática. Esse é o sentido grandioso de sua campanha contra a fome. O direito de cada um e de todos de viver no Planeta Terra. Não se trata de algo a mais, mas de nossa essência como seres humanos. A melhor forma de viver, de todos viverem, é na igualdade e na liberdade democrática, respeitando a diversidade praticando a solidariedade e participando da produção da própria vida. Na verdade, Betinho teceu o fio da vida com o da democracia através da ética, de valores internalizados e sinalizadores de nossa prática como seres humanos.

O apelo de Betinho por instituições radicalmente democráticas foi o mais positivo possível: fazer a nossa acontecer, eliminando os entraves que nós mesmos criamos. Isso ele sintetizou animando a Ação da Cidadania. Não foi a ação estatal ou a ação empresarial-mercantil, mas a ação possível de cada cidadã e cada cidadão, igualados no direito de viver e na responsabilidade de fazer a vida acontecer. Simples, tão simples como foi Betinho. Forte, tão forte como pode ser um beija-flor determinado, fazendo a sua parte. Apelo vivo, porque fala de nós, mesmo quando Betinho já passou, já se foi. A Ação da Cidadania na luta pela democracia e pela vida é o Betinho encarnado em todos nós.

 

2017-08-01T18:24:22+00:00julho 15th, 2017|